Por: Ágata Turini
A indústria de etanol de milho no Brasil vive uma expansão sem precedentes, impulsionada pela crescente demanda por biocombustíveis e pela busca por alternativas mais sustentáveis e economicamente viáveis. Nesse cenário de rápida evolução, a automação industrial surge como um pilar fundamental para garantir a competitividade, a eficiência e a sustentabilidade das usinas. A implementação de tecnologias avançadas, que vão desde sistemas de controle de processo até soluções de Indústria 4.0, está revolucionando a forma como o etanol de milho é produzido, abrindo novas fronteiras de produtividade e rentabilidade.
Este relatório analisa em profundidade a transformação digital no setor de etanol de milho, explorando as principais tecnologias de automação, as tendências emergentes e os benefícios concretos que essas inovações proporcionam. Através do estudo de caso da RRP Energia, uma nova e moderna usina em Tapurah (MT), identificamos os principais aprendizados e as melhores práticas que podem servir de guia para outras plantas que buscam otimizar suas operações e se preparar para o futuro. A análise detalhada do case da RRP Energia, combinada com a visão de especialistas e empresas líderes do setor, oferece um panorama completo e prático sobre como a automação está moldando o futuro da bioenergia no Brasil.
O Cenário da Automação em Usinas de Etanol de Milho
A automação industrial deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade estratégica no setor de etanol de milho. Com a crescente complexidade dos processos produtivos e a busca incessante por maior eficiência, as usinas têm investido maciçamente em tecnologias que permitem otimizar operações, reduzir custos e garantir a qualidade do produto final. A automação abrange todas as etapas do processo, desde o recebimento e moagem do milho até a destilação, desidratação e armazenamento do etanol, além do tratamento e aproveitamento dos coprodutos, como o DDG (grãos secos por destilação) e o óleo de milho.
Empresas como a Fertron [1] e a WEG [2] têm se destacado no fornecimento de soluções completas de automação para o setor, oferecendo desde sistemas de controle de processo (DCS), controladores lógicos programáveis (CLPs) e sistemas supervisórios (SCADA) até soluções mais avançadas de Indústria 4.0, que integram tecnologias como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA) e análise de dados (Big Data). Essas tecnologias permitem um controle mais preciso e em tempo real de todas as variáveis do processo, como temperatura, pressão, vazão e pH, garantindo uma operação mais estável, segura e eficiente.
Um dos principais benefícios da automação é a capacidade de operar a planta de forma contínua e otimizada, 24 horas por dia, 7 dias por semana, com mínima intervenção humana. Isso não apenas aumenta a produtividade, mas também reduz a ocorrência de falhas e erros operacionais, que podem levar a perdas de produção e a custos de manutenção elevados. Além disso, a automação permite um melhor aproveitamento da matéria-prima e dos insumos, reduzindo o consumo de água, energia e produtos químicos, o que contribui para a sustentabilidade do processo e para a redução do impacto ambiental.
O Case RRP Energia: Um Exemplo de Modernidade e Eficiência
A RRP Energia, localizada em Tapurah (MT), representa o que há de mais moderno em termos de automação e tecnologia em usinas de etanol de milho. Com um investimento superior a R$ 1 bilhão, a planta foi projetada para ser uma das mais eficientes e sustentáveis do país, incorporando as melhores práticas e as tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado. O case da RRP Energia oferece aprendizados valiosos para outras usinas que buscam otimizar suas operações e se preparar para o futuro do setor.
Desde o início do projeto, a RRP Energia teve como foco a automação completa de seus processos, visando garantir a máxima eficiência operacional e a qualidade dos produtos. A usina conta com um sistema de controle de processo de última geração, que integra todos os equipamentos e sistemas da planta, permitindo um monitoramento e controle centralizado de todas as operações. A fase de testes finais da usina, iniciada em julho de 2025, incluiu o condicionamento dos equipamentos para a calibração dos controles de automação, um passo crucial para garantir o funcionamento otimizado da planta [3].
A capacidade produtiva da RRP Energia é impressionante: na primeira etapa, a usina processará 1.000 toneladas de milho por dia, com uma produção estimada de 450.000 litros de etanol/dia. A segunda etapa, prevista para 2026, triplicará essa capacidade, chegando a 3.000 toneladas de milho/dia. Além do etanol (hidratado e anidro), a usina produzirá DDG (seco e úmido) e óleo de milho, diversificando sua receita e aproveitando ao máximo a matéria-prima. A geração própria de energia, com capacidade de 27 megawatts, garante a autossuficiência energética da planta e a possibilidade de fornecer energia para o município de Tapurah no futuro [3].
Os principais aprendizados do case da RRP Energia podem ser resumidos nos seguintes pontos:
- Planejamento e Engenharia de Qualidade: O sucesso da RRP Energia começa com um projeto bem-feito e executado, que prioriza a qualidade da engenharia e a escolha de tecnologias robustas e confiáveis. Como destaca Daniel Ruschel, da ICM, “a tecnologia é o coração da planta e a engenharia é um fator muito crítico do processo” [4].
- Automação Completa e Integrada: A automação de 98% dos processos, como no caso da FS, permite um controle preciso e em tempo real de todas as operações, facilitando a previsibilidade da produção e a otimização dos rendimentos [4].
- Foco na Eficiência Energética: A geração própria de energia e o reaproveitamento de subprodutos, como a vinhaça, são estratégias fundamentais para reduzir custos e aumentar a sustentabilidade da operação.
- Diversificação da Produção: A produção de coprodutos de alto valor agregado, como o DDG e o óleo de milho, é essencial para maximizar a rentabilidade da usina.
- Capacitação da Mão de Obra: O investimento em treinamento e capacitação da equipe é crucial para garantir a operação segura e eficiente das tecnologias de automação.
Tendências e Tecnologias Emergentes: A Indústria 4.0 no Setor de Etanol
A transformação digital no setor de etanol de milho vai além da automação tradicional, abraçando os conceitos e as tecnologias da Indústria 4.0. A integração de sistemas ciberfísicos, a Internet das Coisas (IoT) e a inteligência artificial (IA) está abrindo novas possibilidades para otimizar ainda mais os processos produtivos, aumentar a eficiência e a sustentabilidade das usinas.
Empresas como a Raízen já estão colhendo os frutos da implementação de soluções de Indústria 4.0 em suas operações. O uso de inteligência artificial no controle de caldeiras, por exemplo, permitiu à empresa melhorar o uso da biomassa, aumentar a cogeração de energia e reduzir os custos operacionais em 15 de suas usinas de bioenergia [5]. A IA também tem sido aplicada na otimização da logística, no transporte de combustíveis e na gestão das operações agrícolas, garantindo uma gestão mais precisa e ágil de toda a cadeia produtiva.
As principais tendências e tecnologias emergentes que estão moldando o futuro da automação em usinas de etanol de milho incluem:
- Internet das Coisas (IoT): A instalação de sensores inteligentes em equipamentos e processos permite a coleta de um grande volume de dados em tempo real, que podem ser utilizados para monitorar a saúde dos ativos, prever falhas e otimizar o desempenho da planta.
- Gêmeos Digitais (Digital Twins): A criação de modelos virtuais das usinas permite simular e testar diferentes cenários operacionais, otimizar a configuração dos processos e treinar os operadores em um ambiente seguro e controlado.
- Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning: Algoritmos de IA podem ser utilizados para analisar os dados coletados pelos sensores de IoT, identificar padrões, prever tendências e tomar decisões autônomas para otimizar a produção, reduzir o consumo de energia e minimizar o impacto ambiental.
- Análise de Dados (Big Data): A capacidade de analisar grandes volumes de dados (Big Data) permite uma compreensão mais profunda dos processos produtivos, identificando oportunidades de melhoria e otimização que não seriam visíveis com métodos tradicionais.
- Computação em Nuvem (Cloud Computing): A utilização de plataformas em nuvem facilita o armazenamento, o processamento e a análise dos dados gerados pela usina, permitindo o acesso remoto às informações e a colaboração entre equipes de diferentes localidades.
Essas tecnologias, quando integradas em uma plataforma de automação unificada, permitem a criação de usinas inteligentes e autônomas, capazes de se adaptar às mudanças nas condições de mercado e de operar de forma otimizada e sustentável. A implementação bem-sucedida dessas soluções, no entanto, depende não apenas da escolha da tecnologia certa, mas também da capacitação da equipe e da mudança cultural da organização, que precisa estar preparada para abraçar a transformação digital.
Conclusão: O Futuro é Autônomo e Sustentável
A automação e a transformação digital são caminhos sem volta para a indústria de etanol de milho. As usinas que abraçarem as novas tecnologias e investirem na modernização de seus processos estarão mais bem preparadas para competir em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente. O case da RRP Energia demonstra que é possível construir plantas de alta performance, que aliam eficiência produtiva, rentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental.
Os aprendizados do case da RRP Energia, combinados com as tendências e tecnologias emergentes da Indústria 4.0, oferecem um roteiro claro para as usinas que desejam se destacar no cenário da bioenergia. A automação completa e integrada, o foco na eficiência energética, a diversificação da produção e a capacitação da mão de obra são os pilares que sustentarão o sucesso das usinas do futuro. A jornada rumo à usina 4.0 já começou, e as empresas que liderarem essa transformação estarão na vanguarda da revolução energética que está moldando o nosso futuro.
Referências
[1] Fertron. (2025). Como Aumentar a Produtividade da Sua Planta de Etanol de Milho. Acessado em 16 de setembro de 2025, em https://fertron.com.br/2025/01/14/como-aumentar-a-produtividade-da-sua-planta-de-etanol-de-milho/
[2] WEG. (s.d.). Açúcar & Etanol – Sistemas de Automação. Acessado em 16 de setembro de 2025, em https://www.weg.net/institutional/BR/pt/solutions/sugar-ethanol/automation-systems
[3] Caiabis Online. (2025). RRP Energia inicia fase de testes na usina para produção de etanol e DDG em Tapurah. Acessado em 16 de setembro de 2025, em https://www.caiabisonline.com.br/noticia/20365/rrp-energia-inicia-fase-de-testes-na-usina-para-produo-de-etanol-e-ddg-em-tapurah/
[4] NovaCana. (2023). Usinas de etanol de milho encontram vantagens na automação e na indústria 4.0. Acessado em 16 de setembro de 2025, em https://www.novacana.com/noticias/usinas-etanol-milho-encontram-vantagens-automacao-industria-4-0-051023
[5] NovaCana. (2024). Inteligência artificial amplia eficiência em bioenergia e logística, diz executivo da Raízen. Acessado em 16 de setembro de 2025, em https://www.novacana.com/noticias/inteligencia-artificial-amplia-eficiencia-bioenergia-logistica-executivo-raizen-160924