Autora: Ágata Turini
A transformação digital representa uma mudança fundamental na forma como as organizações operam, entregam valor aos seus clientes e se mantêm competitivas em um cenário de mercado em constante evolução. Este processo, que transcende a mera adoção de novas tecnologias, é impulsionado por uma mentalidade de inovação contínua e pela busca incessante por eficiência e otimização. Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) emerge não apenas como uma ferramenta, mas como um pilar central, catalisando e acelerando a transformação digital em uma escala sem precedentes. A capacidade da IA de analisar vastos volumes de dados, identificar padrões complexos e automatizar a tomada de decisão está redefinindo os limites do que é possível em todos os setores da economia.
Este artigo explora o advento da IA no processo de transformação digital, aprofundando-se no conceito de Machine Learning, traçando o histórico evolutivo da IA e analisando as tendências futuras que moldarão nosso mundo. Com um foco particular na importância dos dados, padrões e na tomada de decisão, o artigo também apresentará um estudo de caso prático sobre a automação em usinas de cana-de-açúcar, exemplificando como ferramentas como o Logix AI, em conjunto com hardware de controle como o Citrino, estão revolucionando processos industriais complexos e abrindo novas fronteiras para a eficiência e a produtividade.
O que é Inteligência Artificial (IA)?
A Inteligência Artificial é um campo da ciência da computação dedicado à criação de sistemas e máquinas capazes de realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Isso inclui habilidades como aprender, raciocinar, resolver problemas, perceber o ambiente e compreender a linguagem. O objetivo fundamental da IA é desenvolver tecnologias que possam simular ou até mesmo superar as capacidades cognitivas humanas, permitindo que as máquinas executem funções de forma autônoma e adaptativa. Conforme a Amazon Web Services (AWS), a IA e o Machine Learning são campos que se concentram na criação de software que analisa, interpreta e compreende dados para tomar decisões.
Aprofundando no Machine Learning
O Machine Learning, ou Aprendizado de Máquina, é um subcampo da Inteligência Artificial que se concentra no desenvolvimento de algoritmos que permitem aos computadores aprender a partir de dados, sem serem explicitamente programados para cada tarefa. Em vez de seguir um conjunto de regras estáticas, os modelos de Machine Learning são treinados com grandes volumes de dados, identificando padrões e correlações para fazer previsões ou tomar decisões. A IBM define o Machine Learning como um ramo da IA que se concentra no uso de dados e algoritmos para permitir que a IA imite a maneira como os humanos aprendem, melhorando gradualmente sua precisão ao longo do tempo.
O processo de Machine Learning geralmente envolve as seguintes etapas:
- Coleta de Dados: A base de qualquer modelo de Machine Learning é um conjunto de dados grande e de alta qualidade.
- Pré-processamento dos Dados: Os dados são limpos, organizados e preparados para o treinamento do modelo.
- Treinamento do Modelo: O algoritmo de Machine Learning é alimentado com os dados de treinamento para que ele possa aprender os padrões e as relações entre as variáveis.
- Avaliação do Modelo: O modelo é testado com um conjunto de dados separado (dados de teste) para avaliar sua precisão e desempenho.
- Ajuste e Otimização: O modelo é ajustado e otimizado para melhorar sua performance.
- Implantação: O modelo treinado é implantado em um ambiente de produção para fazer previsões ou tomar decisões em tempo real.
Existem três tipos principais de Machine Learning:
- Aprendizado Supervisionado: O modelo é treinado com dados rotulados, ou seja, dados que já possuem a resposta correta. O objetivo é que o modelo aprenda a mapear as entradas para as saídas corretas.
- Aprendizado Não Supervisionado: O modelo é treinado com dados não rotulados e tenta encontrar padrões e estruturas ocultas nos dados por conta própria.
- Aprendizado por Reforço: O modelo aprende através de tentativa e erro, recebendo recompensas ou punições por suas ações. O objetivo é que o modelo aprenda a tomar as melhores ações para maximizar a recompensa total.
Histórico e Evolução da Inteligência Artificial
A jornada da Inteligência Artificial é uma narrativa fascinante que se estende por décadas, marcada por períodos de grande entusiasmo e avanços significativos, bem como por momentos de desilusão e reavaliação. A IBM traça uma linha do tempo detalhada que nos ajuda a compreender a evolução deste campo.
| Período | Marcos Importantes |
| Primórdios (até 1950) | O conceito de máquinas pensantes remonta a mitos antigos, mas foi no século XX que as bases teóricas e matemáticas começaram a ser estabelecidas. O trabalho de Alan Turing, em particular seu artigo de 1950 “Computing Machinery and Intelligence”, que propôs o famoso Teste de Turing, é considerado um marco fundamental. |
| O Nascimento da IA (1950-1960) | O termo “Inteligência Artificial” foi cunhado em 1955 por John McCarthy. O Workshop de Dartmouth em 1956 é amplamente considerado o evento que deu origem ao campo da IA como uma disciplina de pesquisa formal. Esta década viu o desenvolvimento dos primeiros programas de IA, como o Logic Theorist e o General Problem Solver. |
| A Era do Otimismo e dos Primeiros Sucessos (1960-1970) | Houve um grande otimismo em relação ao potencial da IA. Foram desenvolvidos os primeiros sistemas especialistas, programas de computador que podiam tomar decisões em domínios específicos, como diagnóstico médico. A linguagem de programação Lisp, desenvolvida por John McCarthy, tornou-se a linguagem padrão para a pesquisa em IA. |
| O “Inverno” da IA (1970-1980) | O progresso da IA desacelerou, e o financiamento para a pesquisa diminuiu. As altas expectativas da década anterior não foram totalmente cumpridas, e os computadores da época ainda não tinham o poder de processamento necessário para resolver problemas mais complexos. |
| O Renascimento da IA e os Sistemas Especialistas (1980-1990) | A IA ressurgiu com o sucesso comercial dos sistemas especialistas. Empresas de diversos setores começaram a usar a IA para resolver problemas práticos e obter vantagens competitivas. |
| A Era do Machine Learning e das Redes Neurais (1990-2010) | O foco da pesquisa em IA mudou para o Machine Learning e as redes neurais. O aumento do poder computacional e a disponibilidade de grandes volumes de dados permitiram o desenvolvimento de modelos de Machine Learning cada vez mais sofisticados. |
| A Revolução do Deep Learning e a IA Moderna (2010-Presente) | O Deep Learning, um subcampo do Machine Learning que utiliza redes neurais com muitas camadas, revolucionou o campo da IA. Modelos de Deep Learning alcançaram desempenho sobre-humano em tarefas como reconhecimento de imagem e de fala. A IA tornou-se onipresente em nossas vidas, desde os assistentes virtuais em nossos smartphones até os algoritmos que recomendam produtos em sites de comércio eletrônico. |
Tendências de Futuro da Inteligência Artificial
O futuro da Inteligência Artificial promete ser ainda mais transformador do que o seu passado. Estamos à beira de uma nova era de inovações que irão remodelar indústrias, redefinir o trabalho e impactar profundamente a sociedade. Com base em análises de mercado e projeções de especialistas, como as divulgadas pela Forbes e Gartner, algumas tendências se destacam:
- IA Generativa Multimodal: A evolução dos modelos de IA que podem entender e gerar conteúdo em múltiplos formatos (texto, imagem, áudio, código) de forma integrada e contextual. Isso abrirá portas para aplicações criativas e de resolução de problemas ainda mais complexas.
- Democratização da IA: Ferramentas e plataformas de IA se tornarão mais acessíveis, permitindo que empresas de todos os portes e profissionais de diversas áreas possam desenvolver e implementar soluções de IA sem a necessidade de conhecimento técnico aprofundado em ciência de dados.
- IA Ética e Explicável (XAI): Haverá uma ênfase crescente na transparência e na responsabilidade dos sistemas de IA. A capacidade de explicar como um modelo de IA chegou a uma determinada decisão será crucial para a confiança e a adoção em larga escala, especialmente em setores críticos como saúde e finanças.
- Automação Inteligente e Hiperautomação: A combinação de IA, Machine Learning e Automação de Processos Robóticos (RPA) levará a níveis de automação sem precedentes, otimizando processos de negócios de ponta a ponta e liberando os seres humanos para se concentrarem em tarefas mais estratégicas e criativas.
- Gêmeos Digitais (Digital Twins) e Simulação: A criação de réplicas virtuais de sistemas e processos físicos, alimentadas por dados em tempo real e IA, permitirá a simulação, o teste e a otimização de operações complexas em um ambiente virtual antes da implementação no mundo real.
Dados, Padrões e a Tomada de Decisão
A Inteligência Artificial e, em particular, o Machine Learning, são fundamentalmente dependentes de dados. A capacidade de um sistema de IA de aprender, fazer previsões e tomar decisões inteligentes está diretamente ligada à quantidade, qualidade e relevância dos dados com os quais ele é treinado. Como destaca a MIT Professional Education, o Machine Learning é uma ferramenta fundamental para a tomada de decisões assertiva, possibilitando a análise de grandes quantidades de dados e eventos.
O processo de tomada de decisão impulsionado pela IA pode ser resumido da seguinte forma:
- Coleta Massiva de Dados: Sensores, sistemas de gestão e outras fontes de dados coletam informações em tempo real sobre um determinado processo ou ambiente.
- Identificação de Padrões: Algoritmos de Machine Learning analisam esses dados para identificar padrões, correlações e anomalias que seriam imperceptíveis para um ser humano.
- Geração de Insights: Com base nos padrões identificados, a IA gera insights e previsões sobre o comportamento futuro do sistema.
- Decisão Automatizada ou Assistida: A IA pode tomar decisões de forma autônoma, como ajustar os parâmetros de uma máquina, ou fornecer recomendações para que um operador humano tome a melhor decisão.
Essa capacidade de transformar dados brutos em ações inteligentes é o que torna a IA uma força tão poderosa na transformação digital. Ela permite que as organizações passem de uma abordagem reativa para uma abordagem proativa e preditiva, antecipando problemas, otimizando processos e descobrindo novas oportunidades de negócio.
Estudo de Caso: Automação em Usinas de Cana-de-Açúcar
O setor sucroenergético, um dos pilares da economia brasileira, é um exemplo emblemático de como a Inteligência Artificial está impulsionando a transformação digital em indústrias tradicionais. A complexidade dos processos em uma usina de cana-de-açúcar, desde a moagem da cana até a produção de açúcar e etanol, oferece um terreno fértil para a aplicação de tecnologias de automação e otimização. A FERTRON destaca que a automação e o controle avançado são cruciais para o setor.
O Papel do Logix AI na Tomada de Decisão
Ferramentas como o FactoryTalk Analytics LogixAI, da Rockwell Automation, desempenham um papel crucial nesse cenário. O LogixAI é um módulo de inteligência artificial que se integra diretamente ao hardware de controle do processo, como os controladores da família ControlLogix. Ele funciona como um “cientista de dados embarcado”, analisando em tempo real as variáveis do processo para aprender o seu comportamento normal e, a partir daí, detectar anomalias e fazer previsões. A Rockwell Automation explica que o LogixAI capacita o pessoal de Tecnologia da Operação (TO) com IA pronta para usar, sem a necessidade de conhecimento especializado em ciência de dados.
Um exemplo prático é o controle do processo de moagem da cana. O LogixAI pode monitorar variáveis como a corrente dos motores das moendas, a pressão hidráulica e a velocidade das esteiras. Ao analisar esses dados em conjunto, o sistema pode:
- Detectar Anomalias: Identificar padrões que indicam o desgaste de uma peça ou o risco de um embuchamento (bloqueio) da moenda antes que ele ocorra, permitindo uma intervenção preditiva e evitando paradas não programadas que geram grandes prejuízos.
- Otimizar a Extração: Aprender qual a combinação ideal de variáveis (velocidade, pressão, etc.) para maximizar a extração de caldo da cana, ajustando os parâmetros do processo em tempo real para garantir a máxima eficiência.
- Criar “Soft Sensors”: Em situações onde a medição de uma variável é difícil ou cara (como a medição do teor de sacarose na cana que entra no processo), o LogixAI pode criar um “sensor virtual” que estima essa variável com base em outras variáveis mais fáceis de medir, fornecendo informações valiosas para o controle do processo.
Integração com Hardware Robusto: O Papel do Citrino
A eficácia de um sistema de IA como o LogixAI depende da qualidade e da confiabilidade dos dados que ele recebe. É aqui que entra o hardware de controle, como o CLP (Controlador Lógico Programável) Citrino, da FERTRON. O Citrino é um CLP modular e robusto, projetado para operar em ambientes industriais agressivos, como os de uma usina de cana-de-açúcar. A FERTRON destaca a modularidade e a robustez do Citrino como características essenciais Para aplicações de campo.

A facilidade de integração do Citrino com os sistemas de controle e, por consequência, com módulos de IA, é um de seus grandes trunfos. Sua arquitetura modular permite a conexão de diversos tipos de módulos de entrada e saída, que coletam os dados dos sensores espalhados pela planta industrial. A comunicação via protocolos industriais padrão, como o PROFINET, garante que esses dados sejam transmitidos de forma rápida e confiável para os sistemas de análise, como o LogixAI.
Essa sinergia entre um cérebro de IA (LogixAI) e um corpo robusto e confiável (Citrino) permite que a tomada de decisão seja não apenas inteligente, mas também ágil e segura, operando na borda do processo (edge computing) e garantindo a estabilidade e a otimização da produção.
Outras Derramas Possíveis
A aplicação da IA em usinas de cana-de-açúcar vai além da moagem. Outras “derramas” (processos) que podem ser otimizadas incluem:
- Fermentação: Modelos de IA podem prever o ponto ótimo de finalização da fermentação, maximizando a produção de etanol e evitando perdas.
- Destilação: Otimização do consumo de vapor na destilação, um dos maiores custos energéticos da usina.
- Geração de Energia: Previsão da demanda de vapor e energia, otimizando a queima do bagaço da cana e a cogeração de eletricidade.
- Manutenção Preditiva: Análise de vibração, temperatura e outros parâmetros de equipamentos críticos (bombas, turbinas, etc.) para prever falhas e agendar manutenções de forma proativa.
Conclusão
A transformação digital, impulsionada pela Inteligência Artificial, não é mais uma visão de futuro, mas uma realidade presente e em aceleração. A capacidade da IA de transformar dados em insights e ações está redefinindo os paradigmas de eficiência, produtividade e inovação em todos os setores. O aprofundamento no Machine Learning revela um universo de possibilidades, onde sistemas podem aprender e se adaptar, otimizando processos de forma contínua e autônoma.
O estudo de caso das usinas de cana-de-açúcar ilustra de forma concreta como a sinergia entre softwares de IA, como o Logix AI, e hardwares de controle robustos, como o CLP Citrino, pode gerar valor tangível em ambientes industriais complexos. A tomada de decisão baseada em dados, a detecção preditiva de falhas e a otimização em tempo real deixam de ser conceitos abstratos para se tornarem ferramentas práticas de gestão e operação.
Olhando para o futuro, as tendências indicam uma IA cada vez mais integrada, acessível e inteligente. No entanto, o avanço tecnológico deve ser acompanhado por uma discussão profunda sobre ética, transparência e o impacto social da automação. O verdadeiro potencial da Inteligência Artificial na transformação digital será plenamente realizado quando a tecnologia for utilizada não apenas para otimizar processos, mas para criar um futuro mais sustentável, eficiente e humano.
Referências
- Google Cloud. IA e machine learning: quais as diferenças?
- Amazon Web Services. Qual é a diferença entre IA e machine learning?
- IBM. O que é machine learning (ML)?
- IBM. A história da inteligência artificial.
- Forbes. As 8 Tendências Éticas que Vão Moldar o Futuro da IA em 2026.
- Pulsus. As 10 Tendências em IA para 2025, segundo o Gartner.
- MIT Professional Education. Machine Learning: Tecnologia na Tomada de Decisões.
- Rockwell Automation. FactoryTalk Analytics LogixAI.
- Fertron. citrino.